//texto// Rádios na web faturam pouco mesmo com queda de royalties

Do site Terra / The New York Times

Claire Cain Miller

Depois de 19 meses de batalha sobre os royalties de rádios da web, uma trégua entre as gravadoras e as rádios online está à vista, e deve permitir que as empresas iniciantes de web que operam no ramo de rádio mantenham as portas abertas por pelo menos mais algum tempo.

As duas partes sinalizaram que um compromisso que reduziria os royalties pagos pelas rádios online a artistas e gravadoras está próximo. Em 30 de setembro, ambas persuadiram o Congresso a aprovar uma lei que colocaria em vigor qualquer acordo sobre os royalties ainda na presente sessão do Legislativo.

Mas ainda que os royalties caiam como se espera, as rádios da web precisam descobrir como obterão receita que cubra seus custos.

Sejam operadas por empresas iniciantes batalhadoras ou por grandes organizações de mídia, as estações de rádio na Internet nunca encontraram uma maneira de ter lucros significativos fornecendo música pela qual os ouvintes não pretendem pagar. As modestas receitas publicitárias bastavam para sustentar muitas das estações quando os royalties eram baixos, mas a publicidade em rádios online está ainda na infância, e deve sofrer com os cortes de verbas publicitárias causados pela desaceleração econômica.

“A maioria das operadoras não conta com audiência suficiente para gerar a receita necessária a cobrir despesas”, disse Dave Van Dyke, presidente da Bridge Ratings, uma organização que analisa o setor de rádio. “Apenas algumas delas serão capazes de tirar vantagem monetária do mercado”.

A guerra dos royalties começou em março de 2007, quando o Conselho de Royalties e Direitos Autorais do governo federal norte-americano alterou as taxas que as rádios online tinham de pagar para transmitir música. Antes, as rádios maiores com receita publicitária considerável pagavam US$ 0,0762 por canção/ouvinte, e as estações menores, com faturamento inferior a US$ 1,25 milhões anuais, pagavam entre 10% e 12% de sua receita. Mas a nova norma requer que todas as rádios paguem uma taxa fixa por canção, que subirá a cada ano até 2010, quando chegará a US$ 0,19. Até 2010, as estações menores podem continuar pagando uma porcentagem de suas receitas.

As rádios da web argumentam que é injusto pagar por faixa, especialmente em comparação com os concorrentes. As estações de rádio via satélite pagam 6% de sua receita em royalties, e a taxa subirá a 8% em 2012. As estações de mídia eletrônica aberta não pagam artistas e gravadoras, sob os termos de um acordo de longo prazo que se baseia no conceito de que o rádio na verdade oferece promoção gratuita do trabalho dos músicos.

“As rádios da web não podem pagar tudo isso de jeito nenhum”, disse Tim Westergren, fundador da Pandora, uma rádio online. Ele se tornou o líder das rádios na luta contra os royalties elevados. Segundo Westergren, as novas taxas consumiriam US$ 17 milhões dos US$ 24 milhões que sua empresa vai faturar este ano, o que a forçaria a fechar as portas, ainda que ele esteja otimista quanto a um novo acordo de royalties que permita que as rádios online paguem menos.

A SoundExchange, uma organização sem fins lucrativos que representa artistas e gravadoras e recolhe e distribui os royalties pagos pelas rádios online, disse que cabia às rádios encontrar receita suficiente para pagar os músicos. No momento, “as rádios da web basicamente fornecem música de graça”, disse Richard Ades, porta-voz da SoundExchange.

As rádios de Internet enfrentam um dilema, enquanto tiverem de pagar royalty por faixa em lugar de uma proporção de sua receita bruta, diz Dave Goldberg, empresário da Benchmark Capital e antigo vice-presidente do Yahoo Music. Para obter receita publicitária significativa, elas precisam gerar grandes audiências e atrair anunciantes; mas quando maior a audiência, maior o royalty a pagar.

Quando Goldberg estava no Yahoo, por exemplo, 5% dos usuários geravam 40% dos custos, ele afirma. “Infelizmente, o incentivo era para que nós não facilitássemos que eles ouvissem muito, porque não conseguíamos vender anúncios suficientes diante de um público tão pequeno”.

E publicidade é difícil para algumas das estações menores, que não contam com uma ampla base de ouvintes. A SomaFM, uma rádio de Internet sediada em San Francisco, tem 450 mil ouvintes, mas descobriu que era mais fácil ganhar dinheiro pedindo doações a eles do que com publicidade.

Mesmo assim, o texto de um apelo por doações que o site apresenta informa que a rádio ficará com US$ 35 mil de seu orçamento descoberto este ano. No passado, ela lucrou US$ 20 mil sobre receita de US$ 250 mil, e todos esse dinheiro foi reinvestido em melhorias, diz Rusty Hodge, fundador do site.

O negócio sai caro até mesmo para grandes empresas. Em junho, a America Online formou uma parceria com a CBS para combinar suas rádios na Internet, em parte porque a America Online não achava fácil descobrir como extrair dinheiro de seu serviço de rádio com 250 canais, disse Lisa Namerow, vice-presidente da America Online Radio. A CBS agora vende anúncios para as estações da parceira.

Westergren disse que a Pandora conseguiria se manter à tona com sua receita publicitária caso os royalties não fossem tão altos. Mas em 16 de outubro ele demitiu 14% de seu pessoal, mencionando “as atuais dificuldades econômicas”.

As rádios de Internet em geral encontram dificuldades para atrair anunciantes. A publicidade em formato banner, a única que a Pandora vende, não funciona bem no rádio, segundo Van Dyke. “A maior parte das pessoas que ouve essas rádios minimiza o browser, para ser franco, e por isso não vê a publicidade”, ele diz. E muita gente ouve rádios online usando aparelhos portáteis como o iPhone da Apple, o que torna ainda menos provável que vejam os anúncios.

Tradução: Paulo Migliacci ME

 

 

 

The New York Times

 

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